No Brasil, Gastão e Peninha são os primos mais conhecidos do Pato Donald. Ambos são habitualmente eficientes quando o assunto é atazanar a vida do pobre pato. Mas de maneiras diferentes, assim como bem distintas são suas personalidades. Gastão abusa de sua infalível sorte, pendendo até para uma certa arrogância e futilidade. Já Peninha, amalucado e eventualmente desleixado, não raro coloca o primo nas maiores enrascadas, mas sempre na pura inocência. Gastão foi criado pelo mestre Carl Barks e estreou nos quadrinhos em janeiro de 1948 com A Visita do Primo Gastão (republicada no Brasil em AVENTURA DISNEY #39, de 2008). De conhecido temperamento mercurial, o ponto de fervura de Donald é atingido nas sucessivas investidas do primo na conquista da Margarida. Esta, por sinal, mais de uma vez cedeu ao charme do cara de pau, sobretudo para fazer ciúmes a Donald. Barks mencionou certa vez que sua mulher (chamada pelo apelido de Garé) não gostava de Gastão por considerar injusta a maneira como ele sempre levava a melhor sobre o primo. Mas sua popularidade indica que o leitor, assim como Donald, nunca se cansou de esperar por um milagre nos desfechos das histórias, por mais improvável que parecesse uma reviravolta na sorte de um e habitual azar de outro. A HQ que fecha este volume é um exemplo perfeito de como essa mágica é possível, mesmo quando a sorte de Gastão se mantém infalível. Essa torcida pelo lado mais fraco é que, provavelmente, elevou a popularidade do ganso por aqui, onde chegou a estrelar alguns números da revista EDIÇÃO EXTRA, além de seus próprios almanaques. Na televisão, Gastão também pode ser visto no seriado animado DuckTales, Os Caçadores de Aventuras.
A popularidade de Peninha no Brasil pode ser medida pela quantidade de revistas que o personagem estrelou aqui. Atualmente, ele possui seu próprio almanaque semestral. Sua natural vocação para as trapalhadas foi utilizada pelos artistas brasileiros na criação de um sem número de variações e alter egos estapafúrdios e engraçadíssimos, como Morcego Vermelho, Pena Kid e Pena das Selvas. Até um sobrinho ele ganhou aqui, o Biquinho. Peninha foi criado em 1963 pelo americano Dick Kinney, com vistas no mercado internacional de quadrinhos Disney. Talvez por esse motivo, o personagem nunca atingiu a mesma fama nos Estados Unidos, tampouco apareceu em nenhuma animação. Em 1964, sua primeira HQ foi publicada em alguns países. Escrita por Kinney e desenhada por Al Hubbard, Fome para Fortalecer mostrava um pato em estilo beatnik, algo hippie. Esse debut foi republicado no Brasil em AVENTURAS DISNEY #7, de 2006. Na mesma história, estreou o gato de estimação de Donald, o Ronrom, que já nasceu sofrendo nas mãos estabanadas, mas sempre bem intencionadas, de Peninha.
Kinney decidiu pôr Peninha para trabalhar poucos anos após sua estreia. Junto com Donald, ambos passaram a integrar, muitas vezes com Margarida, a redação do jornal A Patada, de Tio Patinhas. Uma profusão de histórias surgiram daí, quase sempre mostrando o resultado desastroso provocado pela "equipe" desqualificada — claro, contratada apenas em razão da sovinice de Patinhas. A segunda história desta edição ilustra uma rara exceção nos furos (no mau sentido) da dupla. Mas o leitor vai notar que isso só é possível por causa da intervenção de Gastão, justamente.
E já que trabalhar para o Tio Patinhas não garante o futuro de ninguém, o jeito é arregaçar as mangas de vez em quando e por as mãos na massa. Exatamente é o que fazem Donald e Peninha na HQ da página 55, ao abrirem a Confeitaria Dois Patos. Um sucesso absoluto e inesperado.
Revista da editora ABRIL, de 2012 em formatinho com 100 páginas coloridas
REVISTA NOVA EM ESTADO DE BANCA